terça-feira, 18 de setembro de 2018


Casos que o povo conta
Peixe, uma cidade com muitos causos.
                                                      


                                               A cobra


Certo dia às margens do Rio Santa Tereza, estava uma senhora de nome Maria sentada em um tronco de madeira quando avistou uma cobra de tamanho descomunal passando ao seu lado. A velha senhora pensou ... vou matar essa cobra, mas primeiro farei  um cigarro  de palha pra eu pitar, pois essa bicha é muito grande.
Então enquanto a senhora pôs se a enrolar o fumo na palha do milho e logo em seguida começou a fumá-lo, a cobra passava lentamente e vez ou outra a Dona Maria jogava alguns gorgulhos ...e a cobra continuava passando e a velha fumando.
Passado  muito tempo, a velha resolveu matar a cobra pelo lado direito então deu um pulo de aproximadamente um metro e meio, saltando-a, no entanto, já era tarde a danada estava terminando de passar, a parte que Dona Maria pulou já era apenas o rabo da cobra.  
Passado os dias do acontecido Dona Maria estava no açougue contando o caso da dita cobra às pessoas que ali se encontravam. Quando ela terminou de contar o caso, seu Jovino, um Senhor que ouvia o caso copiosamente indagou:
_ Então tia, como a cobra era grande demais quando terminou de passar, a cabeça dela já estava passando lá na barra do rio Santa Tereza, né?
            _ Não meu filho, ela não desceu, subiu de cabeça a cima... já devia estar chegando em Porangatu no estado de Goiás.


                                                                  O redemoinho



A cidade de Peixe é abraçada por dois rios importantes para os ribeirinhos, o Rio Santa Tereza e o Rio Tocantins e para os munícipes é muito comum recorrerem a eles pra pescar uns peixinhos pra comer com arroz branquinho.
Dona Maria morava próxima a Fazenda denominada Olho D’água com seu esposo Manoel e seus filhos. Há uns trinta anos atrás o meio de transporte mais comum das pessoas que moravam na área rural da cidade de Peixe era o cavalo e a carroça. Assim, um certo dia a dona Maria arreou seu animal e disse para o seu esposo Manoel que iria ao rio Santa Tereza que ficava ali perto pra pescar uns peixes pra comer com os filhos na janta, no entanto, seu esposo ao olhar para o céu muito nublado a alertou:
- Maria não vá pro rio uma hora dessa não mulher, olha o barrado que está formando, vai chover logo. É melhor deixar a pescaria pra outro dia .
- Ah Manoel, essa chuva só apronta, apronta ela não vem agora não e o meu cavalo já está arreado, vou num pé e volto noutro.
Dona Maria saiu galopando no seu animal rumo ao Rio Santa Tereza. No caminho viu um pé de caranã, palmeira típica da região e de frutos comestíveis  com os cachos no ponto de colher. Parou seu animal e o amarrou no pé da palmeira, sacou do facão e subiu pra cortar o cacho de caranã. Quando Dona Maria estava lá em cima pra cortar o cacho de caranã veio um vento muito forte (segundo contam um redemoinho) e partiu  ao meio o pé de caranã com Dona Maria segurando as palhas da palmeira com o forte vento a tocando pelo céu. No entanto, Dona Maria sempre foi uma mulher que pensava rápido para sair das inúmeras situações embaraçosas  e perigosas da vida no campo.
Ao perceber que o redemoinho a tocava resolveu agarrar firmemente às palhas da palmeira e guiá-la, pilotá-la. Já no controle da situação e com o vento a seu favor sobrevoou sua própria residência onde avistou seu esposo Manoel no terreiro e gritou:
-Manoel vou plantar essa copa de caranã na beira da lagoa, não se preocupe homem, volto logo.
-Onde está o cavalo Maria?
-Está amarrado na outra metade dessa caranã Manoel, agorinha eu volta pra buscar o animal.


                                        
             O mistério da roça de mandioca






As terras que compõem às margens do rio Santa Tereza desde os tempos de outrora eram muito férteis e produtivas.
A Dona Maria sempre plantava uma pequena roça de mandioca de onde produzia a farinha, o polvilho dentre outros produtos oriundos desta raiz.
A roça estava bonita, as mandiocas no ponto de colheita, no entanto, numa manhã quando dona Maria chegou à plantação, percebeu que havia muitas ramas deitadas ao chão. Os pés de mandioca estavam revirados e as raízes  comidas por animais, logo a agricultora pode observar pelos rastros que eram de caititu, no entanto, o que a deixou intrigada foi não encontrar o local por onde haviam passado. 
Dona Maria voltou para casa aborrecida devido os estragos provocados em sua roça pelos animais.
No dia seguinte voltou à lavoura e percebeu que os animais haviam comido ali novamente. Ficou ainda mais chateada e decidiu  procurar por onde os bichos passaram, procurou muito e percebeu algo suspeito ali mesmo, para sua surpresa encontrou uma raiz de mandioca gigantesca que segundo contava atravessava o rio de lado a lado e os danados dos caititus passavam por dentro da raiz de mandioca, por esse motivo não encontrava rastros na lavoura.  Oh, bicharada inteligente.






O fim do caixão da caridade

O  “cemitério da saudade”, situado na Rua das Flores, no Centro histórico da cidade de Peixe – Tocantins por muitos anos foi o único lugar onde era sepultado os corpos dos entes queridos dos munícipes da cidade.
O cemitério da saudade é uma pequena área de aproximadamente 350m quadrado, fundado em 1970, é todo murado, possui uma capela logo na entrada, esta recebe os visitantes com a imagem de Cristo Crucificado e um pequeno altar em mármore.
Falar deste lugar em especial se deve ao fato do pequeno cemitério ser palco de histórias incríveis de pessoas que já faleceram e ainda por ter em suas dependências uma árvore, um pé de  jatobá,  que faz parte até mesmo do Hino da pequena cidade. Como descreve Pe. Juraci Cavalcante em uma das estrofes do mesmo:
“Quem me dera ventura
De ter a sepultura
No cemitério lá,
Junto ao pé de jatobá.” (Pe. Juraci Cavalcante)
Uma das historias  interessante deste local é sobre o “caixão da caridade”. De acordo com os relatos de algumas pessoas de idade, este caixão era para conduzir o corpo do defunto (que não tinha condição de mandar fazer a urna funerária, a maioria ) até o cemitério, ao chegar na cova onde deveria ser sepultado abria-se o fundo falso do referido caixão e o corpo era deixado cair no buraco (cova). De longe ouvia se o barulho do contato do corpo no chão duro e frio. Daí, era só jogar terra sobre o corpo e o caixão era devolvido a “ Casa da Mãe Pobre” (casa destinada a fazer serviços de cunho social) a espera de um novo defunto.
Nesse mesmo período morava em Peixe uma senhora de nome Maria Rita que odiava o tal caixão e sempre dissera que quando morresse não queria ser apenas jogada na cova, queria ser enterrada com o caixão da caridade. Passado alguns anos, ela veio a falecer e colocaram-na no supracitado caixão, mas quando chegou o momento de abrir o fundo falso do caixão à defunta não houve meio de cair, mesmo sendo empurrada pelo senhor Antônio e outras pessoas presentes, nada de cair na cova que a esperava. Resultado, a Senhora Maria Rita foi enterrado com o caixão, dando fim a esta péssima maneira de conduzir os mortos a sua morada final, o “Cemitério da Saudade”.

A origem
 Onde hoje é a cidade de Peixe, em tempos de outrora antes era apenas um povoado que passou por vários momentos e nomes, a principio chamou-se santa Cruz da Itans, em alusão ao tesouro deixado pelos jesuítas e nunca encontrado, mas muito desejado por todos que por essa região passaram.
Mas alguns tempos depois durante o período chuvoso às águas do Rio Tocantins se avolumaram ocorrendo uma grande enchente nunca vista na região. As águas revoltas despejaram nas vazantes, indo atingir uma grande lagoa localizada a dois quilômetros do centro da atual cidade de Peixe.
Dias se passaram até que as águas baixaram, então, um peixe de tamanho descomunal  ficou preso nos sarãs da lagoa vindo a morrer quando o Rio Tocantins voltou ao seu curso natural. Os moradores contam que o peixe era tão grande que quatro mulheres batiam roupas para lavar em sua cabeça (carcaça do peixe).
                        Onde o peixe morreu ficou a carcaça e ali era caminho onde passavam muitos viajantes e uma das primeiras caravanas que vinham de  Vila Boa de Goiás com destino a Natividade viram a tal carcaça e começaram a espalhar de boca em boca, o quão grande era o peixe, assim os passantes começaram a falar apenas: “vamos passar pelo rio onde foi encontrado o peixe”. Mas com o passar dos dias foram abreviando a frase até dizerem apenas: “passaremos pelo peixe’, dessa forma o nome do povoado foi ganhando vida própria e todos só se referiam ao local como Peixe.
O córrego por onde o peixe subiu também ficou conhecido como córrego do Peixinho e a lagoa onde o grande peixe foi encontrado também ficou conhecido como  Lagoa do Peixe.
Mesmo as pessoas chamando o povoado de Peixe, ainda tentaram batizar o local como Vila do Espirito Santo de Peixe, no entanto as pessoas continuaram falando apenas Peixe.
A elevação de Vila a cidade aconteceu graças ao prestigio e atuação incansável do Senador Domingos Teodoro e o Deputado Cândido Teodoro, representantes legais da região frente ao governo de José L. Xavier de Brito em de junho de 1895. Com a Lei  Estadual nº 64, de 20 de junho de 1895, deu autonomia política ao Distrito de Peixe, com o mesmo topônimo, desmembrando-o do Município de São João da Palma(hoje Paranã) e instalando-o neste mesmo ano com o nome de Peixe.



           

 

6 comentários:

  1. Essas histórias são muito interessantes e engraçadas também... Gostei muito.

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  2. Parabens! Uma união perfeita de cultura e arte. Belo trabalho!

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  3. Parabéns minha irmã. Ideia maravilhosa essa sua em transcrever esses causos que conhecemos

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  4. É pra evitar que se percam com o tempo.

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