sexta-feira, 3 de maio de 2024

FESTEJO DO DIVINO ESPIRITO SANTO DE PEIXE, TOCANTINS - ESTRUTURA CULTURAL

 


  

                                                                           Foto: acervo pessoal-2014.

 

O festejo do Divino Espirito Santo está intrinsicamente conectado ao dia de Pentecostes que por norma, é celebrado cinquenta (50) dias depois do domingo de Páscoa (data considerada pelos cristãos como o dia de Pentecostes, e também foi o dia da descida do Espírito Santo (Espírito de Deus) sobre os apóstolos), dia instituído como a o dia da ressurreição de Jesus Cristo. Dessa forma, antes de dar início com a Alvorada Festiva e o Novenário, os Despachantes soltam as folias que percorrem todo o território de Peixe, levando a Palavra, mensagem da ressurreição em forma de cânticos (benditos, rodas e outros) e oração arrecadando donativos para a festa do imperador em forma de cânticos e oração. Vejamos a estrutura cultural das festividades:

Alvorada Festiva:

Esta é realizada no primeiro dia do festejo (abertura oficial das festividades) que faz o anuncio a comunidade local de que dar-se-á o início da festa tradicional do Divino Espirito Santo.

Horário de realização:  nos primeiros horários do dia, geralmente a partir das 4:00 horas da manhã. Os participantes saem da porta da Igreja Nossa Senhora D’Abadia cantando os cânticos do Divino e outros oriundos da Igreja Católica pelas principais ruas da cidade acompanhados de instrumentos musicais e foguetes.

Encerramento da Alvorada Festiva

Após percorrerem as principais ruas e avenidas da cidade, a ação festiva é encerrada na porta da residência do Imperador onde os participantes fazem a levantada do Mastro do imperador da festa. O mastro é erguido pelas pessoas que participaram da Alvorada Festiva indicando que está ação faz parte da tradição como símbolo de percepção de onde estão os preparativos da festa, pois ao longe os devotos e ajudantes avistam a casa do responsável pela festa.

Sobre os dias do Novenário

O novenário tem início no dia da Alvorada Festiva, no período noturno a partir das 19 horas e 30´minutos. Nesse período de nove dias de novena, as responsabilidades quanto a organização e doação de prendas para o conhecido leilão, são subdivididas entre as Pastorais da Igreja Católica e segmentos representativos da sociedade local, estes são denominados Noiteiros devido serem responsáveis pela organização naquela noite pré - determinada, tal organização vislumbra envolver todos os munícipes nas festividades do padroeiro, o “Divino Espirito Santo”. Para melhor compreensão do leitor segue abaixo a estrutura utilizada pelos festeiros do Divino Espirito Santo em Peixe no ano de 2013:

1º dia

“O Espirito Santo é a Fonte de Sabedoria” (facultativo)

Noiteiros: Comunidade do Setor Boa Vista e as escolas Municipais.

Responsável: Pastoral da Família.

 

2º dia

“O Espirito Santo  Fonte de Sabedoria e Amor” (facultativo)

Noiteiros: Comunidade da vila São José e Escolas Estaduais.

Responsável: Apostolado da Oração

 

3º dia

“O Espirito Santo Fonte de Fortaleza” (facultativo)

Noiteiros: Comunidade do Centro - I, Polícia Civil e Policia Militar.

Responsável: Pastoral do Dízimo

 

4º dia

“O Espirito Santo Fonte de Generosidade” (facultativo)

Noiteiros:  Comunidade do Centro – II e os Comerciantes.

Responsável: Pastoral da Juventude.

 

5º dia

“O Espirito Santo Fonte de Justiça” (facultativo)

Noiteiros:  Comunidade do Setor Aeroporto e o Judiciário (Fórum, Ministério Público, Defensoria Pública e Cartório Eleitoral).

Responsável: Mãe Rainha

 

6º dia

“O Espirito Santo Fonte de Justiça e de Paz” (facultativo)

Noiteiros:  Comunidade do setor sul e Poder Executivo

Responsável: Pastoral da Música

 

7º dia

“O Espirito Santo é o Renovador da Fé” (facultativo)

Noiteiros:  Comunidade do setor sul – II e Poder Legislativo

Responsável: Renovação Carismática

 

 

8º dia

“O Espirito Fonte de Caridade” (facultativo)

Noiteiros:  Comunidade do Setor Nonato Lacerda e Secretarias Municipais.

Responsável: Ministério da Eucaristia e Conselho Econômico.

 

9º dia

“O Espirito Santo Unifica e Santifica” (facultativo)

Noiteiros: crianças e fazendeiros.

 Responsável: Pastoral da Criança e Catequese

 

Procissão Fluvial

                                                                  Foto: acervo pessoal.

 

Esse é um evento fluvial impar que também integra a festividade, conta com as bandeiras do Divino e de Nossa Senhora D’Abadia, é realizada geralmente na última semana do novenário (o dia a ser definido pelos responsáveis da festa), conta com a participação de todos os barqueiros e suas respectivas embarcações, as quais são enfeitadas/decoradas com os sete Dons do Espirito Santo. Cada Pastoral da Igreja fica responsável pela ornamentação de uma embarcação. O início dessa parte festiva dar-se-á às 16 horas com saída do Porto Ariolino Miranda (rampa de Concreto) às margens do Rio Tocantins. Os barcos saem (os participantes cantam e rezam) rio acima por cerca de 2 km e depois retornam ao Porto local. O trajeto fluvial é um ato simbólico que representa a benção do Divino Espirito Santo sobre as águas do rio Tocantins e se estendem a todos que dela fazem uso.

 

Quinta-feira dia do encontro das folias

  

                                                         Foto: acervo pessoal 2014.

 

Após o último dia da novena, geralmente uma quarta-feira, no dia seguinte realiza-se o Encontro das Folias na Praça da Igreja. Os três ternos de folias contam seus respectivos cânticos preparados para o encontro a citar: canto do encontro (cada uma das folias(folias: do Mirador, Carijó e vassoura) faz o seu Canto), Canto do Cruzeiro e o Canto do Altar.

Ao concluírem os três cantos do encontro todos se dirigem ao cruzeiro localizado na porta da igreja onde faz-se o canto do cruzeiro e logo em seguida, já dentro da igreja é realizado o canto do altar. Ao termino desse ritual  os foliões e a comunidade espectadora se dirigem para a casa do Imperador onde os foliões cantam inúmeras rodas e catiras proporcionando um verdadeiro festival de cultura audiovisual aqueles que observam e participam das festividades. Após finalizarem todas as apresentações dos ternos de folias é servido o jantar a todos os presentes.

No dia seguinte( sexta-feira)

Realiza-se a esmola geral com a ajuda dos foliões que se disponibilizarem a fazer o giro na parte urbana da cidade levando a Divindade a casa de seus fiéis devotos.

Vai e vem do mastro

                                                          Fotos acervo pessoal 2013.

 

Na sexta-feira, dia da festa do Capitão do Mastro, no período da manhã (antes que o sol esquente) realiza-se o vai e vem do mastro(saindo da porta do Capitão do Mastro até o entorno da Igreja) até o local onde o mesmo será enfeitado/decorado com bandeirolas e fitas para ser erguido na Porta da Igreja durante as festividades do Capitão e da Rainha do Mastro.

 Capitão e da Rainha do Mastro

      

                                                         Foto: acervo pessoal-2013.

 

No período noturno(sexta-feira) realiza-se o cortejo saindo da casa dos atuais capitão e rainha do mastro em direção a casa daqueles que serão os novos coroados para essa missão (Capitão e da Rainha do Mastro). Após os quatro já estarem juntos, o cortejo segue em direção à Igreja do Divino Espirito Santo onde acontece a entrega da coroa aos novos festeiros(Capitão e da Rainha do Mastro), o ato acorre na porta da igreja. Logo após a coroação todos entram para a igreja onde é celebrado a Missa do Capitão e da Rainha do Mastro.

Missa dos Vaqueiros

       

                                                                    Foto: acervo pessoal.

 

No sábado pela manhã, momentos que antecedem à festa do Imperador realiza-se a Missa dos Vaqueiros, às 9 horas, devidamente organizada pelos festeiros.  Os vaqueiros saem de um ponto específico da cidade, geralmente da Porta da Igreja  Nossa Senhora D’Abadia ou da comunidade Vila São José em direção à Igreja do Divino Espirito Santo. Esta celebração conta com a participação dos fazendeiros, agricultores, devotos e vaqueiros de uma forma geral. Esse momento é destinado ao homem do campo que lida na labuta diária dos trabalhos árduos da roça e da lida com os animais vislumbrando que as bênçãos Divinas cubra-os e proteja-os diariamente em suas localidades de trabalho. Ao final da Missa o Imperador oferta um almoço aos participantes da Missa, estes saem em cortejo devidamente montados em seus respectivos animais até a localidade onde será servido o almoço. É um  momento de confraternização.

Ainda no sábado às 19 horas e 30 minutos realiza-se a coroação do Imperador do Divino e as festividades seguem com distribuição de bolos típicos, licores e paçoca. Além de muita música boa onde as pessoas dançam alegremente.

A súcia no contexto da festa do Divino Espirito Santo em Peixe – Tocantins

 

                                                          Foto: acervo pessoal - 2013.

 

A súcia é uma expressão corporal em forma de movimentos ritmados, uma dança que faz parte da cultura religiosa da cidade de Peixe, que sobressalta durante as festividades religiosa, é muito realizada também durante os pousos de folia ao som da viola, da caixa e das batidas dos pandeiros.

Apenas com o pandeiro e a caixa os foliões conseguem obter diferentes toques que dão vida e ritmo aos passos de quem dança a súcia. Está é uma manifestação cultural advinda como uma herança da cultura dos nossos antepassados africanos que vieram trabalhar na condição de escravos nas minas de ouro, no antigo norte da província Goiás, hoje Tocantins.

A dança da súcia ocorre durante as festividades religiosas da cidade de Peixe e principalmente no cotidiano dos foliões no percurso do giro durante os pousos de folia (é uma parte obrigatória do ritual é considerada como o dança da folia, o último momento do ritual em que os participantes do pouso da folia são convidados a participar da dança logo após o cântico do bendito), ao som da viola,  da caixa e dos pandeiros os presentes dançam e cantam alegremente as cantigas próprias para a performance corporal.

Quando levanta-se o mastro do imperador os participantes dançam a sucia no pé do mastro bem como no momento em que se levanta o mastro do Capitão da festa.

Vale ressaltar que como características apresentadas na dança da súcia podemos identificar a formação da roda, a formação dos pares de participantes na efetivação da dança, canto de versos curtos diversas vezes repetidos, o uso dos instrumentos como pandeiro, caixa e viola participação das pessoas que estão no pouso de folia.

A roda de súcia começa com um dos foliões entoando um canto, sem o toque dos instrumentos, chamado de canjão(descanto).  Existem os cantos de conhecimento popular, mas também os de improvisos, feitos pelos tocadores e cantadores  no calor do momento. Terminando a canto de entrada como, por exemplo, (...eu quero ver, quero ver a dona da casa dançar...) começam as batidas dos instrumentos e o canto propriamente dito, em que os participante cantam juntos, batendo palmas e dando grito de incentivo aos que estão no centro da roda. É de grande valia mencionar alguns cantos muito conhecido pelos participantes e admiradores da súcia como: a. “eu pisei na ponte a ponte tremeu, a água tem veneno morena quem bebeu morreu....”b. “Jacaré estava na lama debaixo da samambaia/ quero conversar com moça/ mais a velha me atrapalha...” c. “ A formiga que doí/ é a jiquitaia...” dentre outros cantos criados pelos cantadores e tocadores de forma improvisada para enaltecer os participantes da roda de súcia.

Geralmente os praticantes da sucia são pessoas que nascem e se criam no âmago da cultura religiosa local, também popularmente denominada como festejos religiosos e terminam por se identificar com um papel a ser desempenhado ali, se tornando tocador, cantador, dançarino, para isso, fazem uso daquilo que sabem melhor fazer por meio da convivência e observação habitual no círculo da família ou da coletividade.

 Encerramento da Festa

Ocorre no domingo com início da missa Solene às 9 horas. Ao final da missa realiza-se os sorteios dos próximos festeiros e dos despachantes das Folias( Vassoura, Carijó e Miradores). Sorteia-se ainda os mordomos para os festeiros vindouros, este sorteio consiste na prenda, ou seja, contribuição que cada munícipe/devoto sorteado irá ofertar a um dos festeiros já sorteados.

Doações espontâneas ao final da missa.

 

Referências Bibliográficas

Documentário. Festejo do Divino Espirito Santo, Peixe-Tocantins. Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Juventude; 2013.

 

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