Casos que o povo conta
Peixe,
uma cidade com muitos causos.
Certo
dia às margens do Rio Santa Tereza, estava uma senhora de nome Maria sentada em
um tronco de madeira quando avistou uma cobra de tamanho descomunal passando ao
seu lado. A velha senhora pensou ... vou matar essa cobra, mas primeiro farei um cigarro
de palha pra eu pitar, pois essa bicha é muito grande.
Então
enquanto a senhora pôs se a enrolar o fumo na palha do milho e logo em seguida
começou a fumá-lo, a cobra passava lentamente e vez ou outra a Dona Maria
jogava alguns gorgulhos ...e a cobra continuava passando e a velha fumando.
Passado muito tempo, a velha resolveu matar a cobra
pelo lado direito então deu um pulo de aproximadamente um metro e meio,
saltando-a, no entanto, já era tarde a danada estava terminando de
passar, a parte que Dona Maria pulou já era apenas o rabo da cobra.
Passado
os dias do acontecido Dona Maria estava no açougue contando o caso da dita
cobra às pessoas que ali se encontravam. Quando ela terminou de contar o caso, seu Jovino, um Senhor que ouvia o caso copiosamente indagou:
_
Então tia, como a cobra era grande demais quando terminou de passar, a cabeça
dela já estava passando lá na barra do rio Santa Tereza, né?
_ Não meu filho, ela não desceu,
subiu de cabeça a cima... já devia estar chegando em Porangatu no estado de Goiás.
A
cidade de Peixe é abraçada por dois rios importantes para os ribeirinhos, o Rio
Santa Tereza e o Rio Tocantins e para os munícipes é muito comum recorrerem a
eles pra pescar uns peixinhos pra comer com arroz branquinho.
Dona
Maria morava próxima a Fazenda denominada Olho D’água com seu esposo Manoel e
seus filhos. Há uns trinta anos atrás o meio de transporte mais comum das
pessoas que moravam na área rural da cidade de Peixe era o cavalo e a carroça.
Assim, um certo dia a dona Maria arreou seu animal e disse para o seu esposo
Manoel que iria ao rio Santa Tereza que ficava ali perto pra pescar uns peixes
pra comer com os filhos na janta, no entanto, seu esposo ao olhar para o céu
muito nublado a alertou:
-
Maria não vá pro rio uma hora dessa não mulher, olha o barrado que está
formando, vai chover logo. É melhor deixar a pescaria pra outro dia .
-
Ah Manoel, essa chuva só apronta, apronta ela não vem agora não e o meu cavalo
já está arreado, vou num pé e volto noutro.
Dona
Maria saiu galopando no seu animal rumo ao Rio Santa Tereza. No caminho viu um
pé de caranã, palmeira típica da região e de frutos comestíveis com os cachos no ponto de colher. Parou seu
animal e o amarrou no pé da palmeira, sacou do facão e subiu pra cortar o cacho
de caranã. Quando Dona Maria estava lá em cima pra cortar o cacho de caranã
veio um vento muito forte (segundo contam um redemoinho) e partiu ao meio o pé de caranã com Dona Maria segurando
as palhas da palmeira com o forte vento a tocando pelo céu. No entanto, Dona
Maria sempre foi uma mulher que pensava rápido para sair das inúmeras situações
embaraçosas e perigosas da vida no
campo.
Ao
perceber que o redemoinho a tocava resolveu agarrar firmemente às palhas da
palmeira e guiá-la, pilotá-la. Já no controle da situação e com o vento a seu
favor sobrevoou sua própria residência onde avistou seu esposo Manoel no
terreiro e gritou:
-Manoel
vou plantar essa copa de caranã na beira da lagoa, não se preocupe homem, volto
logo.
-Onde
está o cavalo Maria?
-Está
amarrado na outra metade dessa caranã Manoel, agorinha eu volta pra buscar o
animal.
O mistério da roça de mandioca
As
terras que compõem às margens do rio Santa Tereza desde os tempos de outrora
eram muito férteis e produtivas.
A Dona Maria sempre plantava uma pequena roça
de mandioca de onde produzia a farinha, o polvilho dentre outros produtos
oriundos desta raiz.
A
roça estava bonita, as mandiocas no ponto de colheita, no entanto, numa manhã
quando dona Maria chegou à plantação, percebeu que havia muitas ramas deitadas ao chão.
Os pés de mandioca estavam revirados e as raízes comidas por animais, logo a agricultora pode
observar pelos rastros que eram de caititu, no entanto, o que a deixou intrigada foi
não encontrar o local por onde haviam passado.
Dona Maria voltou para casa
aborrecida devido os estragos provocados em sua roça pelos animais.
No
dia seguinte voltou à lavoura e percebeu que os animais haviam comido ali
novamente. Ficou ainda mais chateada e decidiu
procurar por onde os bichos passaram, procurou muito e percebeu algo suspeito ali mesmo, para sua
surpresa encontrou uma raiz de mandioca gigantesca que segundo contava
atravessava o rio de lado a lado e os danados dos caititus passavam por dentro
da raiz de mandioca, por esse motivo não encontrava rastros na lavoura. Oh, bicharada inteligente.
O
fim do caixão da caridade
O “cemitério da saudade”, situado na Rua das
Flores, no Centro histórico da cidade de Peixe – Tocantins por muitos anos foi
o único lugar onde era sepultado os corpos dos entes queridos dos munícipes da
cidade.
O cemitério da
saudade é uma pequena área de aproximadamente 350m quadrado, fundado em 1970, é
todo murado, possui uma capela logo na entrada, esta recebe os visitantes com a
imagem de Cristo Crucificado e um pequeno altar em mármore.
Falar deste
lugar em especial se deve ao fato do pequeno cemitério ser palco de histórias
incríveis de pessoas que já faleceram e ainda por ter em suas dependências uma árvore, um pé de jatobá, que faz parte até mesmo do Hino da pequena
cidade. Como descreve Pe.
Juraci Cavalcante em uma das estrofes do mesmo:
“Quem me dera
ventura
De ter a
sepultura
No cemitério
lá,
Junto ao pé de
jatobá.” (Pe. Juraci Cavalcante)
Uma das
historias interessante deste local é
sobre o “caixão da caridade”. De acordo com os relatos de algumas pessoas de
idade, este caixão era para conduzir o corpo do defunto (que não tinha condição
de mandar fazer a urna funerária, a maioria ) até o cemitério, ao chegar na
cova onde deveria ser sepultado abria-se o fundo falso do referido caixão e o
corpo era deixado cair no buraco (cova). De longe ouvia se o barulho do contato
do corpo no chão duro e frio. Daí, era só jogar terra sobre o corpo e o caixão
era devolvido a “ Casa da Mãe Pobre” (casa destinada a fazer serviços de cunho
social) a espera de um novo defunto.
Nesse mesmo
período morava em Peixe uma senhora de nome Maria Rita que odiava o tal caixão
e sempre dissera que quando morresse não queria ser apenas jogada na cova,
queria ser enterrada com o caixão da caridade. Passado alguns anos, ela veio a
falecer e colocaram-na no supracitado caixão, mas quando chegou o momento de
abrir o fundo falso do caixão à defunta não houve meio de cair, mesmo sendo
empurrada pelo senhor Antônio e outras pessoas presentes, nada de cair na cova
que a esperava. Resultado, a Senhora Maria Rita foi enterrado com o caixão,
dando fim a esta péssima maneira de conduzir os mortos a sua morada final, o
“Cemitério da Saudade”.
A
origem
Onde hoje é a cidade de Peixe, em
tempos de outrora antes era apenas um povoado que passou por vários momentos e
nomes, a principio chamou-se santa Cruz da Itans, em alusão ao tesouro deixado
pelos jesuítas e nunca encontrado, mas muito desejado por todos que por essa
região passaram.
Mas alguns tempos depois durante o
período chuvoso às águas do Rio Tocantins se avolumaram ocorrendo uma grande
enchente nunca vista na região. As águas revoltas despejaram nas vazantes, indo
atingir uma grande lagoa localizada a dois quilômetros do centro da atual
cidade de Peixe.
Dias se passaram até que as águas
baixaram, então, um peixe de tamanho descomunal
ficou preso nos sarãs da lagoa vindo a morrer quando o Rio Tocantins
voltou ao seu curso natural. Os moradores contam que o peixe era tão grande que
quatro mulheres batiam roupas para lavar em sua cabeça (carcaça do peixe).
Onde o peixe morreu ficou a carcaça
e ali era caminho onde passavam muitos viajantes e uma das primeiras caravanas
que vinham de Vila Boa de Goiás com
destino a Natividade viram a tal carcaça e começaram a espalhar de boca em
boca, o quão grande era o peixe, assim os passantes começaram a falar apenas: “vamos
passar pelo rio onde foi encontrado o peixe”. Mas com o passar dos dias foram
abreviando a frase até dizerem apenas: “passaremos pelo peixe’, dessa forma o
nome do povoado foi ganhando vida própria e todos só se referiam ao local como
Peixe.
O córrego por onde o peixe subiu
também ficou conhecido como córrego do Peixinho e a lagoa onde o grande peixe
foi encontrado também ficou conhecido como
Lagoa do Peixe.
Mesmo as pessoas chamando o povoado de
Peixe, ainda tentaram batizar o local como Vila do Espirito Santo de Peixe, no
entanto as pessoas continuaram falando apenas Peixe.
A elevação de Vila a cidade aconteceu
graças ao prestigio e atuação incansável do Senador Domingos Teodoro e o
Deputado Cândido Teodoro, representantes legais da região frente ao governo de
José L. Xavier de Brito em de junho de 1895. Com a Lei Estadual nº 64, de 20 de junho de 1895, deu
autonomia política ao Distrito de Peixe, com o mesmo topônimo, desmembrando-o
do Município de São João da Palma(hoje Paranã) e instalando-o neste mesmo ano
com o nome de Peixe.