segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

PEIXE, ÚNICA E INCONFUNDÍVEL.



Cleira Martys Pinto de Queiroz Batista
Pedagoga e Artista Visual

            A cidade de Peixe mesmo sendo secular não possuí muitos registros históricos, o que se aprende vem sendo transmitido oralmente de geração em geração por meio  de narrações orais dos seus munícipes mais velhos. 
            Assim a respeito da origem do nome da cidade sabe-se que na região onde atualmente é o município de Peixe, antes (século) havia apenas um porto de pequeno porte onde um senhor, lavrador possuía uma roça e uma embarcação pequena para fazer o translado necessário no  rio Tocantins. Neste mesmo local (o porto) as pessoas passavam com muita frequência oriundos de Goiás com destino a Natividade, São José do Duro e também chapada dos Negros geralmente a procura das ricas jazidas de ouro que nessa época eram muito latente, no entanto, mesmo com toda movimentação no pequeno Porto as pessoas eram atacadas frequentemente pelos índios Avá-Canoeiros (atualmente uma tribo ameaçada de extinção).
É importante enfatizar que os ataques à comunidade que moravam ás margens do porto local, ocorriam devido a invasão dos maíras (brancos) a uma região que em outrora era habitada apenas pelos índios Avá-canoeiros, sentindo-se ameaçados usavam seu instinto guerreiro na defesa de seu território, esses índios tinham uma capacidade muito grande de resistência e também boas táticas de guerra, além de saber como ninguém uma forma própria de ocultamento ou camuflagem, só deixando ser percebido, quando queriam.
            Avá significa gente, homem e a denominação de Canoeiro pela destreza que esses índios tinham de navegar pelas fortes correntezas do Rio Tocantins e outros rios, os índios Canoeiros eram  tribos nômades, que viviam desde São José do Tocantins( Niquelândia) ao Descoberto da Piedade(hoje Porangatu), percorriam ainda  a região onde hoje é Peixe, a Natividade, Palmas, à aldeia de São José do duro e também ao Arraial da chegada do Carmo. De acordo alguns estudiosos a denominação aos índios de Canoeiros, foi lhes pelos garimpeiros portugueses que exploravam as terras do norte do País, ainda ressaltam  que eram índios aguerridos, incendiários e sanguinários, devido se sentirem ameaçados, pois não aceitavam de forma alguma o convívio com os brancos, buscando a preservação individual e cultural de sua gente.
            Com o intuito de preservarem suas origens, não aceitaram o convivo com os maíras (brancos), então se espalharam por algumas áreas dos estados do Tocantins, Goiás e Minas Gerais, sempre mantendo-se isolados e espalhados pelas matas e cerrados dessas regiões, com essa tática de sobrevivência os herdeiros da cultura Avá conseguiram manter  e preservar a integridade de sua humanidade e sua identidade.
            Atualmente no Estado do Tocantins os índios Canoeiros encontrados, estão localizados na Ilha do Bananal, sendo que todos os indivíduos já contactados estão localizados na Aldeia Canoanã.
            Portanto, devido os constantes ataques dos índios Canoeiros às tropas da coroa portuguesa e aqueles que moravam perto do rio Tocantins foi designado para vir residir junto ao porto local o Aferes Alfredo Ramos Jubé que chegou com 25 praças a seu comando, com o objetivo de garantir a segurança das pessoas na passagem do supramencionado  rio e também para procurar o tesouro das Itans. A palavra Itans é uma palavra tupi, e significa – Pedra das Conchas, pois no rio Santa Tereza, naquela longínqua época, encontrava-se as referidas conchas. O tesouro das Itans segundo a lenda foi deixado pelos jesuítas que ao passarem catequizando na região encontraram este valioso tesouro junto ao arraial das Itans e o deixou com os dizeres: “Na mais alta pedra do Rio Santa Tereza, em um lugar denominado Itans, está sepultado o maior tesouro dos Jesuitas”.
            Com esses dois objetivos em mente o alferes Alfredo Ramos Jubé constrói um forte que para aquele período seria a primeira moradia de telha erguida próxima ao rio  onde passou a residir com seus comandados. Com a proteção do Alferes o povoado foi aumentando o número de pessoas à beira do porto local oriundas em sua maioria do Carmo, Natividade, Paranã, Conceição do Norte, Porto Nacional dentre outros lugares de regiões distintas país.
            De acordo contam, os primeiros habitantes junto ao porto local  foram Francisco da Silva Montes e Joaquim Tavares ( o primeiro passador do porto na pequena embarcação de madeira, canoa) e seus filhos Teotônio e Raimundo Tavares de Brito, que também auxiliaram Ramos Jubé nas escaramuças aos índios Canoeiro.
            Ainda sobre o rico tesouro deixado no lugar denominado Itans pelos Jesuítas, mesmo após muitas expedições do Alferes e seus comandados  jamais foram encontrados algum vestígio do tão afamado tesouro, assim é mais uma lenda que permeia a realidade da comunidade peixense.
            O povoado crescia com a pacificação do alferes. Então, Ramos Jubé construiu a primeira casa de oração, onde atualmente está localizada a Praça Jetúlio Vargas. Antes mesmo de concluir a igreja foi introduzida a imagem de Nossa Senhora da A`Badia , considerada uma das mais belas obras do famoso escultor e santeiro goiano Veiga Vale. A introdução da Santa na igreja também é cercada por mistérios e milagres, pois  de acordo contam os munícipes que a imagem foi trazida em um caixote de pinho, e carregada nos ombros por Marcelino Gonçalves, descendente de escravo. A viagem com a santa de Vila Boa de Goiás até o povoado foi realizada a pé e durou quinze dias, chegando ao povoado em 10 de agosto de 1825.
            Ainda contam que a devoção a Nossa Senhora da A`Badia foi em cumprimento a uma promessa feita para que os índios Avá-Canoeiros cessassem seus ataques ao Arraial, e que  após a chegada da referida imagem ao local descrito, nunca mais os índios Canoeiros voltaram a atacar.
            O Alferes Alfredo Ramos Jubé anos depois foi acometido pelo mal denominado impaludismo (malária)  e acabou falecendo sem que houvesse tempo para trazer sua família que vivia em Vila Boa de Goiás para o povoado.
            O povoado passou por vários momentos e nomes, a principio chamou-se santa Cruz da Itans, em alusão ao tesouro deixado pelos jesuítas e nunca encontrado mas muito desejado  por todos que por essa região passaram. Mas alguns tempos depois durante o período chuvoso às águas do Rio Tocantins se avolumaram ocorrendo uma grande enchente nunca vista na região. As águas revoltas despejaram nas vazantes, indo atingir uma grande lagoa localizada a dois quilômetros do centro da atual cidade de Peixe. Dias se passaram até que as águas baixaram, então, um peixe de tamanho descomunal  ficou preso nos sarãs da lagoa vindo a morrer quando o Rio Tocantins voltou ao seu curso natural. Os moradores contam que o peixe era tão grande que quatro mulheres batiam roupas para lavar em sua cabeça.
            Onde o peixe morreu ficou a carcaça e ali era caminho onde passavam muitos viajantes e uma das primeiras caravanas que vinham de  Vila Boa de Goiás com destino a Natividade viram a tal carcaça e começaram a espalhar de boca em boca, o quão grande era a carcaça do peixe, assim os passantes começaram a falar apenas: “vamos passar pelo rio onde foi encontrado o peixe”. Mas com o passar dos dias foram abreviando a frase até dizerem apenas: passaremos pelo peixe, dessa forma o nome do povoado foi ganhando vida própria e todos só se referiam ao local como Peixe.
 É de fundamental importância evidenciar que o córrego por onde o peixe subiu também ficou conhecido como córrego do Peixinho e a lagoa onde o peixe foi encontrado também ficou conhecido como  Lagoa do Peixe.
            Mesmo as pessoas chamando o povoado de Peixe ainda tentaram batizar o local como Vila do Espirito Santo de Peixe, após a promulgação da Lei Provincial nº 13, de 31 de junho de 1846, onde o Arraial foi elevado à categoria de Vila  do distrito do Município de Palmas(atualmente Paranã).
            Muitas pessoas vieram para a Vila do Espirito Santo de Peixe dentre as quais pode-se citar o Sr. Narciso Ponce Leones, Elizeu Augusto Canguçu, Antônio  José de Almeida, Pedro Pinheiro de Queiroz dentre outros que ajudaram a construir a história e a identidade do povo peixense. No entanto, os supracitados deram inicio ao primeiro trabalho politico  com intuito a elevação de Vila à categoria de cidade.
            A elevação de vila a cidade aconteceu graças ao prestigio e atuação incansável do Senador Domingos Teodoro e o Deputado Candido Teodoro, representantes legais da região frente ao governo de José L. Xavier de Brito em de junho de 1895. Com a Lei  Estadual nº 64, de 20 de junho de 1895, deu autonomia política ao Distrito de Peixe, com o mesmo topônimo, desmembrando-o do Município de Palmas (hoje Paranã) e instalando-o neste mesmo ano.
Posteriormente, em divisão territorial datada de 31 de dezembro de 1936, o Município de Peixe apareceu com o nome de Santa Terezinha, o qual não foi aceito pela comunidade. Finalmente, novamente pelo Decreto-Lei Estadual nº 557, de 30 de março de 1938, apareceu com o nome atual.
             Com o desmembramento a cidade ficou  localizada a uma latitude  12º01'30" sul e a uma longitude  48º32'21" oeste, estando a uma altitude de 240 metros. Sua população atual está estimada 10.384 habitantes segundo o último senso.
            Peixe faz limites ao Norte: Brejinho de Nazaré; Sul: Talismã e Jaú do Tocantins; Leste: Paranã, São Salvador do Tocantins e São Valério; Oeste: Gurupi e Sucupira. Possui uma rica hidrografia a citar os rios: Tocantins, Canabrava, ribeirão Alagadiço, Tucum, Gameleira e ainda os córregos Traira, Fundo, Arapuã,  Porteiras, Mucumba e Peixinho.

Referencias bibliográficas:
INSTITUTO Sócioambiental. Enciclopédia dos Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <http://www.socioambiental.org/pib/epi/ava/ava.shtm>. Acessado em: 
<18 2011="" de="" mar="" o="">
Divisão Territorial do Brasil. Divisão Territorial do Brasil e Limites Territoriais. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (1 de julho de 2008). Página visitada em 11 de outubro de 2008.
Tribo Avá-Canoeiro: a história de um "povo invisível" nas matas do país. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=T9hSRn2UuF4 >. acessado em: <20 2013="" de="" setembro="">.

Relatos Orais de anciães locais.
Desenhos de Edhuarda  Victória Pinto de Queiroz.


Anexos fotográficos







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   A centenária cidade de Peixe, completa 129 anos de emancipação política no dia 20 de junho de 2024.    A melhor forma de homenagear a cid...