Foto: acervo pessoal-2014.
O festejo do Divino Espirito
Santo está intrinsicamente conectado ao dia de Pentecostes que por norma, é
celebrado cinquenta (50) dias depois do domingo de Páscoa (data considerada
pelos cristãos como o dia de Pentecostes, e também foi o dia da descida do Espírito
Santo (Espírito de Deus) sobre os apóstolos), dia instituído como a o dia da
ressurreição de Jesus Cristo. Dessa forma, antes de dar início com a Alvorada
Festiva e o Novenário, os Despachantes soltam as folias que percorrem todo o
território de Peixe, levando a Palavra, mensagem da ressurreição em forma de
cânticos (benditos, rodas e outros) e oração arrecadando donativos para a festa
do imperador em forma de cânticos e oração. Vejamos a estrutura cultural das
festividades:
Alvorada Festiva:
Esta é realizada no primeiro dia
do festejo (abertura oficial das festividades) que faz o anuncio a comunidade
local de que dar-se-á o início da festa tradicional do Divino Espirito Santo.
Horário de realização: nos primeiros horários do dia, geralmente a
partir das 4:00 horas da manhã. Os participantes saem da porta da Igreja Nossa
Senhora D’Abadia cantando os cânticos do Divino e outros oriundos da Igreja
Católica pelas principais ruas da cidade acompanhados de instrumentos musicais
e foguetes.
Encerramento da Alvorada Festiva
Após percorrerem as principais
ruas e avenidas da cidade, a ação festiva é encerrada na porta da residência do
Imperador onde os participantes fazem a levantada do Mastro do imperador da
festa. O mastro é erguido pelas pessoas que participaram da Alvorada Festiva
indicando que está ação faz parte da tradição como símbolo de percepção de onde
estão os preparativos da festa, pois ao longe os devotos e ajudantes avistam a
casa do responsável pela festa.
Sobre os dias do Novenário
O novenário tem início no dia da
Alvorada Festiva, no período noturno a partir das 19 horas e 30´minutos. Nesse
período de nove dias de novena, as responsabilidades quanto a organização e
doação de prendas para o conhecido leilão, são subdivididas entre as Pastorais
da Igreja Católica e segmentos representativos da sociedade local, estes são
denominados Noiteiros devido serem responsáveis pela organização naquela noite
pré - determinada, tal organização vislumbra envolver todos os munícipes nas
festividades do padroeiro, o “Divino Espirito Santo”. Para melhor compreensão
do leitor segue abaixo a estrutura utilizada pelos festeiros do Divino Espirito
Santo em Peixe no ano de 2013:
1º dia
“O Espirito Santo é a Fonte de Sabedoria” (facultativo)
Noiteiros: Comunidade do Setor Boa Vista e as escolas Municipais.
Responsável: Pastoral da Família.
2º dia
“O Espirito Santo Fonte de
Sabedoria e Amor” (facultativo)
Noiteiros: Comunidade da vila São José e Escolas Estaduais.
Responsável: Apostolado da Oração
3º dia
“O Espirito Santo Fonte de Fortaleza” (facultativo)
Noiteiros: Comunidade do Centro - I, Polícia Civil e Policia Militar.
Responsável: Pastoral do Dízimo
4º dia
“O Espirito Santo Fonte de Generosidade” (facultativo)
Noiteiros: Comunidade do Centro
– II e os Comerciantes.
Responsável: Pastoral da Juventude.
5º dia
“O Espirito Santo Fonte de Justiça” (facultativo)
Noiteiros: Comunidade do Setor
Aeroporto e o Judiciário (Fórum, Ministério Público, Defensoria Pública e
Cartório Eleitoral).
Responsável: Mãe Rainha
6º dia
“O Espirito Santo Fonte de Justiça e de Paz” (facultativo)
Noiteiros: Comunidade do setor
sul e Poder Executivo
Responsável: Pastoral da Música
7º dia
“O Espirito Santo é o Renovador da Fé” (facultativo)
Noiteiros: Comunidade do setor
sul – II e Poder Legislativo
Responsável: Renovação Carismática
8º dia
“O Espirito Fonte de Caridade” (facultativo)
Noiteiros: Comunidade do Setor
Nonato Lacerda e Secretarias Municipais.
Responsável: Ministério da Eucaristia e Conselho Econômico.
9º dia
“O Espirito Santo Unifica e Santifica” (facultativo)
Noiteiros: crianças e fazendeiros.
Responsável: Pastoral da
Criança e Catequese
Procissão Fluvial
Foto: acervo pessoal.
Esse é um evento fluvial impar
que também integra a festividade, conta com as bandeiras do Divino e de Nossa
Senhora D’Abadia, é realizada geralmente na última semana do novenário (o dia a
ser definido pelos responsáveis da festa), conta com a participação de todos os
barqueiros e suas respectivas embarcações, as quais são enfeitadas/decoradas
com os sete Dons do Espirito Santo. Cada Pastoral da Igreja fica responsável
pela ornamentação de uma embarcação. O início dessa parte festiva dar-se-á às
16 horas com saída do Porto Ariolino Miranda (rampa de Concreto) às margens do
Rio Tocantins. Os barcos saem (os participantes cantam e rezam) rio acima por
cerca de 2 km e depois retornam ao Porto local. O trajeto fluvial é um ato
simbólico que representa a benção do Divino Espirito Santo sobre as águas do
rio Tocantins e se estendem a todos que dela fazem uso.
Quinta-feira dia do encontro das folias
Foto: acervo pessoal 2014.
Após o último dia da novena,
geralmente uma quarta-feira, no dia seguinte realiza-se o Encontro das Folias
na Praça da Igreja. Os três ternos de folias contam seus respectivos cânticos
preparados para o encontro a citar: canto do encontro (cada uma das
folias(folias: do Mirador, Carijó e vassoura) faz o seu Canto), Canto do
Cruzeiro e o Canto do Altar.
Ao concluírem os três cantos do
encontro todos se dirigem ao cruzeiro localizado na porta da igreja onde faz-se
o canto do cruzeiro e logo em seguida, já dentro da igreja é realizado o canto
do altar. Ao termino desse ritual os
foliões e a comunidade espectadora se dirigem para a casa do Imperador onde os
foliões cantam inúmeras rodas e catiras proporcionando um verdadeiro festival
de cultura audiovisual aqueles que observam e participam das festividades. Após
finalizarem todas as apresentações dos ternos de folias é servido o jantar a
todos os presentes.
No dia seguinte( sexta-feira)
Realiza-se a esmola geral com a
ajuda dos foliões que se disponibilizarem a fazer o giro na parte urbana da
cidade levando a Divindade a casa de seus fiéis devotos.
Vai e vem do mastro
Fotos acervo pessoal 2013.
Na sexta-feira, dia da festa do
Capitão do Mastro, no período da manhã (antes que o sol esquente) realiza-se o
vai e vem do mastro(saindo da porta do Capitão do Mastro até o entorno da
Igreja) até o local onde o mesmo será enfeitado/decorado com bandeirolas e
fitas para ser erguido na Porta da Igreja durante as festividades do Capitão e
da Rainha do Mastro.
Capitão e da Rainha do Mastro
Foto: acervo
pessoal-2013.
No período noturno(sexta-feira)
realiza-se o cortejo saindo da casa dos atuais capitão e rainha do mastro em
direção a casa daqueles que serão os novos coroados para essa missão (Capitão e
da Rainha do Mastro). Após os quatro já estarem juntos, o cortejo segue em
direção à Igreja do Divino Espirito Santo onde acontece a entrega da coroa aos
novos festeiros(Capitão e da Rainha do Mastro), o ato acorre na porta da
igreja. Logo após a coroação todos entram para a igreja onde é celebrado a
Missa do Capitão e da Rainha do Mastro.
Missa dos Vaqueiros
Foto: acervo
pessoal.
No sábado pela manhã, momentos
que antecedem à festa do Imperador realiza-se a Missa dos Vaqueiros, às 9
horas, devidamente organizada pelos festeiros.
Os vaqueiros saem de um ponto específico da cidade, geralmente da Porta
da Igreja Nossa Senhora D’Abadia ou da
comunidade Vila São José em direção à Igreja do Divino Espirito Santo. Esta
celebração conta com a participação dos fazendeiros, agricultores, devotos e
vaqueiros de uma forma geral. Esse momento é destinado ao homem do campo que
lida na labuta diária dos trabalhos árduos da roça e da lida com os animais
vislumbrando que as bênçãos Divinas cubra-os e proteja-os diariamente em suas
localidades de trabalho. Ao final da Missa o Imperador oferta um almoço aos
participantes da Missa, estes saem em cortejo devidamente montados em seus
respectivos animais até a localidade onde será servido o almoço. É um momento de confraternização.
Ainda no sábado às 19 horas e 30
minutos realiza-se a coroação do Imperador do Divino e as festividades seguem
com distribuição de bolos típicos, licores e paçoca. Além de muita música boa
onde as pessoas dançam alegremente.
A súcia no contexto da festa do Divino Espirito Santo em Peixe –
Tocantins
Foto: acervo
pessoal - 2013.
A súcia é uma expressão corporal em forma de movimentos ritmados, uma dança que faz parte da cultura religiosa
da cidade de Peixe, que sobressalta durante as festividades religiosa, é muito realizada
também durante os pousos de folia ao som da viola, da caixa e das batidas dos
pandeiros.
Apenas com o pandeiro e a caixa os foliões conseguem obter diferentes toques
que dão vida e ritmo aos passos de quem dança a súcia. Está é uma manifestação
cultural advinda como uma herança da cultura dos nossos antepassados africanos
que vieram trabalhar na condição de escravos nas minas de ouro, no antigo norte
da província Goiás, hoje Tocantins.
A dança da súcia ocorre durante as festividades religiosas da cidade de
Peixe e principalmente no cotidiano dos foliões no percurso do giro durante os
pousos de folia (é uma parte obrigatória do ritual é considerada como o dança
da folia, o último momento do ritual em que os participantes do pouso da folia
são convidados a participar da dança logo após o cântico do bendito), ao som da
viola, da
caixa e dos pandeiros os presentes dançam e cantam alegremente as cantigas
próprias para a performance corporal.
Quando
levanta-se o mastro do imperador os participantes dançam a sucia no pé do
mastro bem como no momento em que se levanta o mastro do Capitão da festa.
Vale
ressaltar que como características
apresentadas na dança da súcia podemos identificar a formação da roda, a
formação dos pares de participantes na efetivação da dança, canto de versos
curtos diversas vezes repetidos, o uso dos instrumentos como pandeiro, caixa e viola
participação das pessoas que estão no pouso de folia.
A roda de súcia
começa com um dos foliões entoando um canto, sem o toque dos instrumentos,
chamado de canjão(descanto). Existem os
cantos de conhecimento popular, mas também os de improvisos, feitos pelos tocadores
e cantadores no calor do momento.
Terminando a canto de entrada como, por exemplo, (...eu quero ver, quero ver
a dona da casa dançar...) começam as batidas dos instrumentos e o canto
propriamente dito, em que os participante cantam juntos, batendo palmas e dando
grito de incentivo aos que estão no centro da roda. É de grande valia mencionar
alguns cantos muito conhecido pelos participantes e admiradores da súcia como: a. “eu pisei na ponte a ponte tremeu, a água
tem veneno morena quem bebeu morreu....”b. “Jacaré estava na lama debaixo da
samambaia/ quero conversar com moça/ mais a velha me atrapalha...” c. “ A
formiga que doí/ é a jiquitaia...” dentre outros cantos criados pelos
cantadores e tocadores de forma improvisada para enaltecer os participantes da
roda de súcia.
Geralmente os praticantes da sucia são pessoas que
nascem e se criam no âmago da cultura religiosa local, também popularmente
denominada como festejos religiosos e terminam por se identificar com um papel
a ser desempenhado ali, se tornando tocador, cantador, dançarino, para isso,
fazem uso daquilo que sabem melhor fazer por meio da convivência e observação
habitual no círculo da família ou da coletividade.
Encerramento da Festa
Ocorre no domingo com início da
missa Solene às 9 horas. Ao final da missa realiza-se os sorteios dos próximos
festeiros e dos despachantes das Folias( Vassoura, Carijó e Miradores).
Sorteia-se ainda os mordomos para os festeiros vindouros, este sorteio consiste
na prenda, ou seja, contribuição que cada munícipe/devoto sorteado irá ofertar
a um dos festeiros já sorteados.
Doações espontâneas ao final da missa.
Referências Bibliográficas
Documentário. Festejo do Divino
Espirito Santo, Peixe-Tocantins. Secretaria Municipal de Cultura, Turismo,
Esporte e Juventude; 2013.